O "Acaso" existe?
É possível concluir que
o "acaso" seja uma limitação da capacidade de conseguirmos antever todos os
efeitos possíveis de todas as causas prováveis. Já que nós mesmos selecionamos
o que pode ou não ser uma surpresa e, comumente, damos mais valores aos efeitos
que nos afetem de maneira pessoal enquanto os outros ficam praticamente
despercebidos. Logo, a rigor, à primeira vista somos errantes ao classificarmos
o que possa ser “possível” do “impossível”. Apesar disso, a nossa inteligente resiste
em admitir que não haja um plano por de trás dos fenômenos, quero dizer: algum
propósito, e talvez seja por isso que ela possa tender ao extremo argumento de
que nada ao nosso redor possa ser consequência da aleatoriedade. É claro que
não podemos descartar a possibilidade de fatos intencionados, mas
antropomorfizar toda a natureza com a malícia do bem e do mal, por certo, acaba
nos cegando das próprias maravilhas naturais e colocando como guia o Eu na
medida do certo e errado. Em face disso, venho compartilhar alguns esboços de
ideias a cerca desse assunto.
A ideia de Acaso é cercada
por diversos preconceitos, sejam pelas analogias retóricas como, por exemplo,
as relações com o Nada ou sejam pelas tendências ao Caos que existem no dinamismo do cosmos, visto que mesmo a nossa Sapiência admitindo
não ter controle sobre tudo e todos que conhece, ainda assim, ela acredita que
está fazendo parte de um plano cósmico. Ainda, permanece utilizando suas
muletas em terrenos irregulares com extrema fé de que são planos e
desimpedidos. E, insiste em ter a capacidade de julgar categoricamente tudo o que
lhe influencia e isso o faz manifestar-se involuntariamente com sua arrogância
através de suas críticas e especulações. Disso, então, poderíamos nos
perguntar: Se não deveríamos subestimar o
que julgamos improvável, então, por que desmerecer o provável? Afinal, como conciliar a imprevisibilidade
com a origem da “ordem”?
De certa forma, todas
as possibilidades como causas e consequências operam ao mesmo tempo e o acaso seria aquela pouco esperada ou
simplesmente aquela situação nunca pensada na nossa dialética – capacidade de
se pensar em vários assuntos ao mesmo tempo-, por conseguinte, fazendo com que
o nosso eu penso aceite somente como
imprevisível o que não foi imaginado por ele mesmo. No mesmo plano, estão todas
as questões sobre a Origem das Espécies e do surgimento e evolução do Universo.
Nosso senso comum, infimamente existente, tenta sintetizar longos processos em
analogias de apenas um punhado de passos e atos. Sendo isso previsível, pois
como nos faz lembrar o filósofo Arthur Schopenhauer em sua obra O Livre Arbítrio: “O ser humano é um animal prático e não teórico”.
Por isso, na mesma magnitude com que a natureza teria horror ao vácuo, segundo Aristóteles,
também o ser humano teria horror ao pretenso “acaso”, em virtude da pouca
reflexão sobre ele.
Ele
pensa: Tudo, menos o “acaso”!
Aliás, existem
fenômenos probabilísticos que são eventuais o tempo todo, por exemplo, ao
analisarmos um copo d’água que esteja no estado líquido, então, não veremos
nenhum indício de gelo, mas se lembrarmos de que os estados da matéria são
consequências da movimentação de suas partículas, cuja média das energias
cinéticas delas resultam na medida da temperatura do sistema onde estão, assim,
logo descobriremos que se uma molécula chocar-se com outra, consequentemente,
poderá acabar perdendo energia cinética por uma mais veloz do que ela e, com
isso, instantaneamente venham a surgir microcristais de gelo durante um
curtíssimo tempo, mas que isso não violaria a Segunda Lei da Termodinâmica,
pois a mesma não é determinística e sendo tal evento apenas infinitesimalmente
provável, mas possível.
Além disso, a
possibilidade de uma pessoa conseguir atravessar uma parede sem precisar de um
buraco nela para transpô-la ou mesmo um caminho para contorná-la poderia nos
remeter a uma situação de ficção ou heresia, mas em certas condições, estudadas
pela Física Quântica, a chance disso acontecer também não seria nula.
Portanto, situações
como as descritas impressionariam o senso comum de tal modo como se fossem “mágicas”
ou até mesmo “milagrosas”, mas tudo isso devido ao fato do inesperado se tornar
explícito. Com isso, poderíamos reconsiderar com menos preconceitos a teoria de Charles Darwin ao "mistério
dos mistérios” e não invalidar o aperfeiçoamento das espécies pela “Seleção Natural” ou como esse Naturalista preferia: “A preservação das raças
favorecidas na luta pela vida”, porque isso não significa que tudo seja
absolutamente a “sobrevivência do mais forte ou apto” e sim que seja mais
provável verificarmos o mesmo na Natureza ao invés dos comportamentos
altruístas de uma criatura pertencente a uma espécie para com uma de outra espécie
ou até entre as do mesmo tipo.
Nessa perspectiva,
tornar-se-iam igualmente surpreendentes como as possibilidades dos fenômenos
exemplificados anteriormente tudo aquilo que é raro e belo no âmbito humano. Quero dizer: o amor, a fidelidade, a amizade e
todos os outros valores e sentimentos nobres são manifestações que se destacam
dentre as selvagens relações no meio ambiente animal, todavia, não são
impossíveis de serem esperadas, mas pertencendo apenas a um conjunto menor das
possibilidades. Sendo assim, é tanto uma cegueira moral para seres inteligentes guiarem-se apenas pelas causas e
efeitos da Evolução das Espécies e se utilizarem dela para as “justificativas”
de suas injustiças quanto demonizá-las por causa das errôneas interpretações e
fundamentações tendenciosas humanas baseadas nelas.
Em síntese, a semente
do acaso não é o NADA, mas sim a chance menos intuitiva ou inesperada da menor
das probabilidades vir a se manifestar fortuitamente na realidade, podendo ser a própria
realidade cosmológica uma sobreposição dos efeitos mais sutis que
possibilitassem a existência do Universo conhecido, num provável Multiverso.
Lucas
Oliver
Comentários
Postar um comentário